Lançada em 15/01/1861, a primeira edição de “O Livro dos Médiuns”, de Allan Kardec

 LIVRO-DOS-MEDIUNS

  Contém o ensino especial dos Espíritos sobre a teoria de todos os gêneros de manifestações, os meios de comunicação com o Mundo Invisível, o desenvolvimento da mediunidade, as dificuldades e os escolhos que se podem encontrar na prática do Espiritismo

    

      “O Livro dos Médiuns” versa sobre o caráter experimental e investigativo do Espiritismo, visto como ferramenta teórico-metodológica para se compreender “a nova ordem dos fenômenos” até então jamais considerada pelo conhecimento científico: os fenômenos ditos espíritas ou mediúnicos, que teriam como causa a intervenção de Espíritos na realidade física.

      É o segundo volume da Codificação Espírita. Historicamente, o Codificador, após a publicação de “O Livro dos Espíritos” em 18 de abril de 1857, no ano seguinte, 1858 edita um livreto “ Instruções Práticas Sobre as Manifestações Espíritas”. O “Instruções” teve apena duas edições. Na realidade, ele se constituiu como um ensaio, sobre o qual se desenvolverá “O Livro dos Médiuns” que só será editado em janeiro de 1861. Publicado este, Allan Kardec suprime aquele que, aqui no Brasil foi lançado em nossa língua na gráfica de Cairbar Schutel, em Matão.

      É aprofundamento de “O Livro dos Espíritos” no seu Livro Segundo – Do Mundo Espírita ou dos Espíritos. Atende a questionamentos básicos do ser: De onde vim? O que sinto? Por que sofro? Para onde vou?

     Essas duas obras, “O Livro dos Espíritos” e “O Livro dos Médiuns”, embora poderíamos dizer que se completam, são independentes uma da outra. Assim como a primeira enfeixa o aspecto filosófico, esta focaliza a parte prática para aqueles que desejarem conhecer a mecânica das comunicações, as leis que as regem, enfim, as questões mediúnicas.

     Após essa apreciação, transcreveremos o que o Codificador fala sobre o Livro: -“ Há muito tempo anunciada, mas com a publicação retardada, por força de sua mesma importância, esta obra aparecerá de 5 a 10 de janeiro, na casa dos Srs. Didier & Cie, livreiros – editores, Quai des Augustins, 35. Ela constitui o complemento de “O Livro dos Espíritos” e encerra a parte experimental do Espiritismo, assim como este último encerra a parte filosófica.

     Nesse trabalho, fruto de longa experiência e de estudos laboriosos, procuramos esclarecer todas as questões que se ligam à prática das manifestações. De acordo com os Espíritos, contém a explicação teórica dos diversos fenômenos e das condições em que os mesmos podem se reproduzir. Mas, a parte concernente ao desenvolvimento e ao exercício da mediunidade foi de nossa parte objeto de particular atenção.

     O Espiritismo experimental é cercado de muito mais dificuldades do que geralmente se pensa; e os escolhos aí encontrados são numerosos. Eis o que ocasiona tantas decepções aos que dele se ocupam, sem experiência e conhecimentos necessários. Nosso objetivo foi de premunir contra esses escolhos, os quais nem sempre deixam de encerrar inconvenientes para quem quer que se aventure imprudentemente por esse terreno novo. Não podíamos esquecer esse ponto capital: e o tratamos com o cuidado exigido por sua importância.

     Os inconvenientes se originam quase sempre da leviandade com que é tratado problema tão sério. Os Espíritos, sejam quais forem, são as almas dos que viveram; em seu meio estaremos infalivelmente, mais dia, menos dia; todas as manifestações espiríticas, inteligentes ou outras, têm, assim, por objeto pôr-nos em contato com essas almas. Se respeitamos os seus restos mortais, com mais forte razão devemos respeitar o ser inteligente que sobrevive, e que constitui a verdadeira individualidade. Transformar as manifestações em puro jogo é faltar com o respeito que, talvez, um dia reclamemos para nós próprios, e que jamais é violado impunemente.

     Já passou o primeiro momento de curiosidade causada por esses estranhos fenômenos: hoje que se lhes conhece a fonte, evitemos profaná-la com brincadeiras impróprias e esforcemo-nos por nela bebermos o ensinamento adequado a nos assegurar a felicidade futura. O campo é muito vasto, e o objetivo muito importante para prender toda a nossa atenção. Até hoje os nossos esforços tenderam para fazer entrar o Espiritismo neste caminho sério. Se esta nova obra, tornando-o ainda melhor conhecido, puder contribuir para impedir o desvio de seu fim providencial, estaremos largamente recompensados de nossos cuidados e de nossas vigílias.

     Este trabalho, que não dissimulamos, levantará mais de uma crítica, da parte daqueles a quem desagrada a severidade dos princípios, bem como dos que, vendo as coisas de um outro ponto de vista, já nos acusam de querermos fazer escola no Espiritismo. Se é fazer escola procurar nesta Ciência o fim útil e proveitoso para a Humanidade, nós teríamos o direito de nos sentirmos envaidecidos com a acusação. Mas uma tal escola não necessita de outro chefe senão o bom senso das massas e a sabedoria dos bons Espíritos, que a teriam criado sem nossa intervenção. Eis porque declinamos da honra de a ter fundado, sentindo-nos, ao contrário, felizes de nos colocarmos sob sua bandeira; aspiramos apenas o modesto título de propagandista. Se um nome é necessário, escreveremos em seu frontispício: Escola do Espiritismo Moral e Filosófico, com o que concordam todos quantos temos necessidade de esperanças e consolações”.

                                                               

Allan Kardec

 

Fonte: Revista Espírita -- Anos 1867 e 1868