Allan Kardec e Sua Esposa Gabi -10/2023

 RUBENS-10-2023

  ALLAN KARDEC e SUA ESPOSA GABI

 

Rubens de Araújo

 

 

                Quando pensamos na elevada missão do Codificador do Espiritismo, Allan Kardec, raramente recordamos ou nos damos conta de que ele não esteve sozinho em tão grandioso trabalho.

                Exaltamos Kardec, ressaltamos o seu esforço, a sua abnegação para cumprir em menos de quinze anos a tarefa que lhe fora confiada, a sua coragem ao enfrentar as reações adversas que a mensagem espírita por certo atrairia – o que ele já estava ciente, pois o Espírito de Verdade o alertara a respeito, destacamos a sua elevação espiritual, sendo ele integrante da falange do Consolador – tudo isso, é obvio, merecidamente.

                A programação espiritual, numa missão de tal magnitude, é perfeita: era imprescindível que o culto e prestigiado professor Hippolyte Leon Denizard Rivail caminhasse ao encontro de seu imenso cabedal de conquistas espirituais e Allan Kardec ressurgisse, como numa gloriosa síntese, fundindo o passado ao presente para que o futuro se delineasse com matizes irretocáveis.

                Assim, alguém mais foi convidado em Espírito com o qual aquele que seria o Codificador sentia-se profundamente afinizado, alguém muito querido, de teor vibratório compatível com o seu, cujas aquisições morais e espirituais estavam a altura para compartilhar o mesmo ideal e também contribuir para sua realização, propiciando-lhe apoio e segurança, paz e tranquilidade a fim de que no momento certo se instaurassem os pródromo de uma nova era para a Humanidade.

                Amelie Gabrielle de Lacombe Boudet foi o seu nome de batismo. Ela veio primeiro, nove anos antes dele. Tempo suficiente para que seu amadurecimento espiritual aflorasse na nova etapa reencarnatoria e despertasse a atenção de um certo professor, que ao vê-lá sentiu ter encontrado a sua companheira ideal.

                Culta, inteligente, era também professora, diplomada em Letras e Belas-Artes. Casaram-se no dia 06/02/1832.

                Sintonizados com os mesmos propósitos, Amelie Gabrielle, de imediato, associou-se ao esposo na tarefa educacional, no Instituto Técnico por ele fundado em Paris, cuja orientação era baseada nos métodos Pestalozianos.

                Tarefa está a que ambos se dedicariam por longos anos, em meio a lutas e revezes, mas, idealistas e perseverantes, levaram adiante a missão de educar no seu sentido mais amplo, até mesmo lecionando gratuitamente, favorecendo aqueles que não tinham condições de pagar.

                Rivail e Amelie Gabrielle não tiveram filhos biológicos, porém, muitos foram os filhos do coração, pois convivendo com crianças e jovens, aos quais desveladamente transmitiam elevados valores morais o que mais tarde levaria Kardec a escrever sobre a Educação e a arte de educar, como fruto de sua vivencia e da de sua esposa.

                Após a desencarnação do esposo ela cuidou de preservar o plano de organização do Espiritismo, tal como Kardec havia previsto e publicara na Revista Espírita de 1868, tomando todas as providencias cabíveis.

                Ela foi, portanto, esposa, conselheira, inspiradora e colaboradora fiel de Allan Kardec.

                Ele próprio teve ocasião de declarar, que “Minha esposa aderiu plenamente aos meus intentos e me secundou na minha laboriosa tarefa, como faz ainda, através de um trabalho frequentemente acima de suas forças, sacrificando, sem pesar, os prazeres e as distrações do mundo aos quais sua posição de família havia habituado”.

                Aos 87 anos, no dia 21/01/1883, Amelie Gabrielle regressou a Pátria Espiritual.

                Ela teve a primazia de conhecer antecipadamente a Doutrina Espírita, tendo sido por isso a primeira mulher espírita.

                Amelie era dessas mulheres boas, nobres e puras, e que, despojadas de vaidade, descobrem no casamento missões nobilitantes a serem desempenhadas.

                Sem dúvida, nós espiritas muito devemos a Amelie Gabrielle, ou a Gabi como carinhosamente Kardec a chamava. Devemos também a Kardec, pela codificação da Doutrina Espirita que ele muito bem sintetizou  em seu discurso de 19.09.1861, realizado em Lyon na França, quando ele disse – “O Espiritismo: tem impedido inúmeros suicídios; devolveu a paz e a concordia a grande número de famílias; tornou mansos e pacientes homens violentos e coléricos; deu resignação aos que não a tinham; consolação aos aflitos; reconduziu a Deus os que o desconheciam, destruindo as ideias materialistas, verdadeira chaga social que aniquila a reponsabilidade moral do homem; eis o que tem feito e faz todos dias, o que fará cada vez mais, à medida que se espalhar”.

Uma maneira de reverenciar Kardec é reverenciar também Gabi e conscientizar-se que espalhar a Doutrina Espírita é incorporar as suas lições no dia a dia da vida, impregnar-se do conhecimento dela, esforçar-se por viver a sua mensagem, pois que são deveres que nenhum adepto sincero do Espiritismo pode transferir, a fim de que o seu comportamento ateste a qualidade da convicção religiosa.